AMOR AUTISTA

Mexendo nos meus arquivos, encontrei esta poesia, escrita num momento em que tentava imaginar o que se passava na cabeça do Edinho. Na época, ele possuia todos os sintomas possíveis e imagináveis do Autismo.

Autismo severo, diagnóstico imperdoável. Neste dia, eu coloquei no papel tudo aquilo que eu lia nos olhos do meu filho. Tudo o que eu tinha certeza que ele queria me dizer, pudesse ele falar, ou comunicar-se de qualquer maneira.

Edinho desenvolveu-se de uma forma inimaginável, perdendo quase todos os sintomas autistas, revogando as Leis da Ciência e revertendo seu diagnóstico para PDD_Nos, como vocês sabem. Naquela época eu ainda não sabia, mas estava vivenciando o período de maior aprendizado da minha vida. Obrigada, meu filho.

“Por favor, não tente me mudar.

Eu sei que tenho defeitos,

Não sou perfeito

Mas, quem o é?

Olha para mim quando quiser minha atenção,

Eu vou tentar te entender.

O que você fala Pode ser grego ou latim,

Pode ser até outra língua,

Eu não entendo.

Quando tudo fica embaçado e confuso

E parece até que saio de dentro de mim,

Sinto medo

E vou procurar aquilo que me acalma e me dá segurança.

Às vezes é balançar minhas mãozinhas,

Às vezes é ficar pulando,

Apertar meu umbigo,

Tapar meus ouvidos.

Às vezes é deitar no chão e olhar para meus dedos.

Eu não sou maluco não, eu só estou fugindo do medo.

E quando você acha que eu estou olhando para o nada…

…Não é isso não.

Eu estou olhando para aqueles anjinhos,

Cheios de cor, asas coloridas, voando bem alto

E dizendo que eu não estou só.

Meus dias são lindos, cheios de coisas boas,

Gente boa querendo me ajudar.

Eu sinto o Amor.

Sinto o Carinho.

Mas na rua, algumas pessoas olham feio para mim,

Me acham bobo, burro, estranho ou só engraçado…

…Ficam sem graça, não sabem como me tratar.

Eles me olham com os olhos da cara.

Mas você …

…Você me olha com os olhos da alma.

Desculpe se eu te deixo triste de vez em quando.

Não é por mal.

Às vezes , quando eu quero muito uma coisa, não me controlo:

Choro, grito, me jogo no chão e até te bato…

Você fica triste, mas eu não me controlo.

Você até chora, mas eu não me controlo.

Nessas horas eu queria poder falar, pedir descupas, sei lá.

Mas as palavras não saem.

Então só te olho cheio de amor

E você me entende,

E me perdoa,

E segue me amando.

Seja como fôr.

Não olhe pra mim e chore.

Do meu jeito, eu te amo.

Do meu jeito, eu sou feliz.

Voce me faz feliz.

Mas nao tenta me mudar…”