Holanda, 14 de maio, 2025.
Por Fatima de Kwant

Recentemente, publicamos uma reportagem sobre a denúncia de maus-tratos na APAE de Ijuí (RS), feita em 2023 por uma mãe de uma criança autista. A acusação repercutiu no município e causou preocupação, tanto entre as famílias que aguardam vaga para seus filhos na instituição quanto na própria direção da escola.
Procuramos os responsáveis pela APAE de Ijuí para ouvir sua versão sobre o caso. Em uma reunião online, realizada na presença do presidente da organização, Alailton Baldissera Xavier, conversamos com a diretora da instituição, Magali Franco, e com a procuradora jurídica da APAE, Dra. Angel Mattioni Paz.
A diretora afirmou que houve boa fé por parte da equipe, com a intenção de acolher tanto a criança quanto a mãe. No entanto, classificou o caso de Ricardo como “complexo”, mencionando que o menino apresentava comportamentos agressivos. “Não víamos o Ricardo como um problema. Ele era apenas uma criança autista”, declarou Magali, ressaltando que tais comportamentos eram esperados. Ela também destacou a proposta da APAE de atender crianças nos níveis mais altos de suporte do espectro autista — justamente aquelas que, por apresentarem dificuldades comportamentais, ficam de fora da inclusão em escolas regulares. A diretora ressalta que suas equipes buscam constantemente por aprimoramento profissional, e reconhece a atualização como necessidade permanente no trabalho com o público do espectro autista.
Em resposta às perguntas da reportagem sobre as acusações feitas por Denise Rochinheski, mãe do menino, a procuradora jurídica Dra. Angel Mattioni Paz informou que há uma ação judicial em andamento, com o objetivo de mediar a situação, que já se estende há quase dois anos. Por estar sob sigilo, os detalhes do processo não podem ser divulgados. No entanto, a jurista afirmou que, desde o início das conversas, houve intenção de alcançar um acordo amigável. “A instituição (APAE) nunca fechou as portas para a mãe. Estamos abertos ao entendimento”, afirmou.
EXPECTATIVA X REALIDADE

Não restam dúvidas de que se trata de um caso delicado, envolvendo duas partes — a família e a instituição —, cada uma com expectativas distintas em relação à presença da criança na escola. Situações como essa são recorrentes em diversos estabelecimentos que recebem ou tratam crianças autistas.
A expectativa das famílias nem sempre corresponde às condições que as instituições de ensino têm para atender crianças com necessidades específicas e individuais. Ao mesmo tempo, muitas dessas instituições, mesmo agindo com as melhores intenções, não contam com o suporte necessário do município ou do estado para oferecer o nível de excelência que as famílias de pessoas autistas esperam — e têm direito de exigir.
Não há uma solução pronta, mas é consenso que o diálogo é essencial. A comunicação entre família e instituição, ainda antes da matrícula, sobre o que a escola pode de fato oferecer, é um passo fundamental. É igualmente necessário que existam protocolos claros de manejo comportamental e que as secretarias municipais de Educação e Saúde garantam apoio efetivo — incluindo verbas para a capacitação continuada de profissionais em instituições públicas que atendem pessoas autistas.
Acredita-se que esses elementos possam ajudar a reduzir a grande distância que ainda existe entre expectativa e realidade.

Fatima de Kwant – Escritora, jornalista pesquisadora do autismo, especialista em Autismo e Comunicação Social, mãe de um autista adulto e ativista internacional pela causa do autismo

Link permanente