16 de abril, 2025
Por Fatima de Kwant
Uma em 31 crianças até 8 anos tem o diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), conforme o relatório publicado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) no dia 15 de abril de 2025. O CDC se encontra nos Estados Unidos, no entanto, é considerado como referência mundial. A incidência foi determinada a partir de dados coletados, em 2022, por registros médicos.

Segundo o autor do relatório, Zachary Warren, diretor-executivo do Centro de Tratamento ode Autismo Vanderbilt Kennedy, em Nashville (EUA), o aumento dos casos de autismo devem ser atribuídos ao aprimoramento de instrumentos diagnósticos de transtornos do (neuro)desenvolvimento.
Recentemente, o secretário de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., afirmou que “a epidemia de autismo alcança, agora, uma escala sem precedentes na história da humanidade.” Criticado por muitos ativistas internacionais pela causa do autismo, a suposição de que haja uma epidemia de autismo no mundo é considerada dramática e capacitista por muitos profissionais, igualmente.
“Autismo é genético e hereditário. Existe tanto quanto na época em que eu era uma criança, nos anos 60, contudo eu era invisível.”
Brian Bird

Brian Bird, ativista autista (Inglaterra)
Segundo Brian Bird, ativista inglês, responsável pela plataforma digital Autism Support Community, não há razão para alarme. “Não existe epidemia, isto (autismo) não é uma doença, mas um modo diferente do cérebro funcionar”, diz o ativista. O autista e, também, pai de dois rapazes autistas, continua: “Atualmente, temos uma conscientização bem maior, e bem mais acesso ao diagnóstico. Profissionais estão vendo o espectro na sua totalidade e diagnosticando pessoas que ficaram invisíveis, no passado.”
O informe do CDC é um programa de monitoramento que acontece a cada dois anos, apresentando uma amostra da prevalência e modo como médicos identificam o autismo entre crianças de 4 a 8 anos. A última contagem coletou dados de 16 sites em 14 estados americanos. Diagnósticos de TEA revelam que meninos são três vezes mais diagnosticados do que meninas. Houve mais diagnósticos entre crianças negras e de origem latina, quando comparadas as crianças de cor branca. Supõe-se que este aumento se deve a maior conscientização.
O QUE CAUSA O AUTISMO?
Não existe uma resposta simples. Até o momento, uma só causa para o determinar o TEA é inexistente. São muitas as possibilidades de um embrião desenvolver autismo. A genética parece ser o fator determinante, com comprovados estudos apontando cerca de 97% a 99% de origens genéticas. No entanto, Robert Kennedy Jr. sugere que uma das causas seja a vacina, apesar de todos os estudos efetuados através do mundo, negando qualquer correlação entre autismo e vacinas, mais especificamente, a do sarampo, caxumba e rubéola. Praticamente, toda a comunidade cientifica intercontinental concorda que vacinas não causam autismo.

A causa do autismo parece ser o foco da administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no que diz respeito a seu programa de saúde para detectar condições crônicas na infância.

Dra. Déborah Kerches
“Pesquisas recentes apontam que fatores de risco ambientais e epigenéticos também podem contribuir para este crescimento, ao interagirem com predisposições genéticas”
Dra. Déborah Kerches
A neuropediatra brasileira, especialista em autismo, Dra. Déborah Kerches, relaciona o aumento da incidência a fatores como a atualização dos critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-5, melhores estudos de prevalência, maior conscientização da sociedade e capacitação profissional, porém, ela acredita que estas causas não explicam completamente o crescimento observado. “Pesquisas recentes apontam que fatores de risco ambientais e epigenéticos também podem contribuir para este crescimento, ao interagirem com predisposições genéticas”, segundo a médica. Dra. Déborah ressalta que a prevalência no espectro do autismo segue 3,4 vezes maior entre os meninos, contrastando com a prática clínica e sugere subnotificação de casos mais sutis, especialmente em meninas. “O próprio relatório indica que 39,5% das crianças diagnosticadas também apresentam deficiência intelectual, reforçando a ideia de que quadros com maior comprometimento ainda são os mais facilmente reconhecidos”, conforme a especialista.
O próximo relatório do CDC deverá ser publicado dentro de dois anos. Até lá, as comunidades internacionais do autismo, incluindo autistas, seus familiares, terapeutas, médicos e cientistas estudiosos do TEA, estarão a seguir cada passo das descobertas que não param de chegar e surpreender o mundo, erradicando mitos e preconceitos, além de comprovar que o autismo é mais comum do que se pensa.