Holanda, 19 de novembro, 2024.
Por Fatima de Kwant

A exposição ambiental a poluentes atmosféricos durante períodos críticos de desenvolvimento pode afetar significativamente o risco de autismo, de acordo com uma revisão inovadora do Emerging Topic publicada em 12 de novembro de 2024, na plataforma Brain Medicine, da Genomic Press. A pesquisa destaca como a poluição do ar, particularmente partículas finas e óxidos de nitrogênio, pode elevar o risco de autismo, interrompendo os processos críticos de desenvolvimento do cérebro.
Mecanismos-chave, incluindo estresse nitrosativo, neuroinflamação e interrupções do neurotransmissor, revelam como a exposição pré-natal e na primeira infância afetam a saúde neurológica.
Sem dúvida, um tema recorrente nas comunidades internacionais do autismo é a respeito da poluição como uma das causas do desenvolvimento do autismo em fetos. Rechaçada por muitos especialistas, a ideia da poluição como agente causador do TEA já conta com esta pesquisa que, primariamente, se ocupou em verificar o neurodesenvolvimento fetal a partir da identificação de moléculas e derivados durante sua exposição no período de gestação.
Achados relevantes:
- Partículas como a PM2.5 podem atravessar a placenta, prejudicando potencialmente o desenvolvimento do cérebro fetal, especialmente para indivíduos geneticamente predispostos. As descobertas ressaltam uma necessidade urgente de medidas de proteção para mulheres grávidas em áreas de alta poluição. Esta pesquisa sugere que as cidades podem precisar adaptar o planejamento urbano para proteger as populações vulneráveis.
- A predisposição genética ao autismo pode aumentar a vulnerabilidade à poluição do ar.
- Estresse nitrosativo, neuroinflamação e ruptura endócrina são mecanismos-chave.
O estudo revela como os poluentes atmosféricos comuns, incluindo partículas finas e óxidos de nitrogênio, podem desencadear cascatas biológicas complexas que afetam o desenvolvimento cerebral. Essas descobertas chegam em um momento crucial, já que a prevalência global de TEA atinge 1-1,5% da população.
Diferentes tipos de distúrbios neurológicos, incluindo o Transtorno do Espectro do Autismo, podem ser associados a esse fator ambiental”, explica o professor Haitham Amal, da Universidade Hebraica de Jerusalém, líder da equipe responsável pelo estudo.

“O momento da exposição parece crucial, com maior vulnerabilidade durante o desenvolvimento pré-natal e na primeira infância, quando ocorrem processos críticos de neurodesenvolvimento“, afirma Amal.
A revisão identifica vários trajetos através dos quais os poluentes atmosféricos podem influenciar o desenvolvimento de TEA:
- Estresse nitrosativo orquestrado por óxido nítrico (ON)
- Neuroinflamação e estresse oxidativo
- Interrupção dos sistemas de neurotransmissores
- Modificações epigenética
- Interferência do sistema endócrino
- Desregulação da via metabólica
A revelação de que partículas como PM2.5 e produtos ON atravessam a placenta e afetem o desenvolvimento cerebral do feto levanta questões importantes sobre medidas de proteção para mulheres grávidas em áreas altamente poluídas.
“A pesquisa sugere que indivíduos com predisposição genética ao TEA podem ser mais vulneráveis aos efeitos nocivos da exposição à poluição do ar”, observa o professor Amal. “Essa interação entre fatores genéticos e ambientais abre novos caminhos para entender a etiologia complexa do TEA.”
A revisão, escrita pela primeira vez pelo estudante de doutorado Shashank Ojha, também destaca direções promissoras para o desenvolvimento de biomarcadores, potencialmente permitindo a identificação precoce de indivíduos em risco.
Segundo considerações da Genomic Press, as implicações vão além da saúde individual e das políticas públicas. Como as cidades podem precisar adaptar seu planejamento urbano para proteger populações vulneráveis? Que papel o monitoramento da qualidade do ar poderia desempenhar nos cuidados pré-natais? Essas questões se tornam cada vez mais urgentes à medida que a urbanização continua em todo o mundo.
A equipe de pesquisa enfatiza a necessidade de estudos abrangentes examinando os efeitos combinados de múltiplos poluentes, particularmente durante janelas de desenvolvimento específicas. Entender essas interações pode ser crucial para o desenvolvimento de estratégias preventivas eficazes.
Pesquisa Original: “Poluição do Ar: Um Fator de Risco Emergente para Transtorno do Espectro do Autismo” por Haitham Amal et al. Brain Medicine https://bm.genomicpress.com/wp-content/uploads/2024/11/BM0115-Amal-2024.pdf