TEN – TRANSTORNO do ESPECTRO NEUROTÍPICO

O TEN, ou Transtorno do Espectro Neurotípico é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta aproximadamente 98% da população mundial. A epidemia fez com que as pessoas afetadas no TEN fossem consideradas superiores ao restante 1% da população mundial autista e 1% das pessoas com outros transtornos. Os três pilares do Neurotipismo são: Imitação, Burguesia, Individualismo.

Imitação

Bebês neurotípicos imitam o que veem. É desse jeito que aprendem a ser neurotípicos. O cérebro neurotípico é sensível ao que vê outros fazerem, considerando correto. Ignoram o processamento sensorial, sendo capaz de suportar ruídos, odores e demais sensações incômodas porque é assim que todos fazem.

Transtorno do Espectro Neurotípico é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta aproximadamente 98% da população mundial.

Podem demonstrar nervosismo, também chamado de tiques nervosos (não gostam do termo estereotipia, que conferem ao TEA – Tabela do Espectro do Autismo). Os tiques mais comuns são: balançar o pé ou as pernas; enrolar uma mecha de cabelo em volta dos dedos; estalar os dedos; morder um canto dos lábios; roer as unhas, etc.

Burguesia

O conceito burguês é passado aos neurotípicos de geração a geração. Seus pais os criam para serem iguais a eles; casar, ter filhos, ter um trabalho satisfatório. É um ritual fortalecido pela sociedade. Quanto mais burguês, mais neurotípico o indivíduo.

Individualismo

A sociedade neurotipica é contraditória. Por um lado, exalta as virtudes do ser humano; por outro, prende-se ao individualismo que caracteriza a maioria das pessoas no TEN. Exemplo:

1 – Um neurotípico é exaltado por suas ações altruístas mas, ao mesmo tempo, é desvalorizado pela mesma (valorizam muito o dinheiro).

2 – Um neurotípico apoia uma boa causa, mas pode ignorar um mendigo que lhe peça dinheiro, ajuda ou comida.

3 – Um neurotípico se enternece com crianças deficientes, mas nenhum deles desejaria ter um filho deficiente.

O TEN, também chamado de Neurotipismo ou de Normalidade, é um distúrbio generalizado, e possui vários graus de manifestação: Neurotipismo Leve, Moderado e Severo

 

O Neurotipismo Leve

Muitas vezes confundido com o autismo. Os neurotipicos leves costumam ser bastante criativos, introvertidos e menos sociais do que outros no TEN. Este grupo se caracteriza pela alta inteligência emocional e uma visão ampla do mundo e das pessoas à sua volta.

Os neurotipicos leves não demonstram gostar do que a maioria dos outros neurotipicos aprecia (malicia, maldade, ironia, barulho, multidões, e certeza absoluta etc.). Preferem o contato com a Natureza, animais e outras (poucas) pessoas com quem possam trocar experiências com bases sólidas.

Os neurotipicos leves estão em constante busca do crescimento espiritual e não se limitam à regras (criadas pela sociedade neurotípica) que não consideram fazer sentido. A sua relação com os autistas costuma ser boa, pois ambos têm muito em comum.

A Comunicação do neurotipico leve é sempre efetiva. Ele ou ela não perde tempo com conversações sem objetivo (papo furado, na linguagem neurotípica), tampouco com comparações. Apreciam discussões profundas, história, literatura e filosofia.

Geralmente justos e honestos, dão valor à sinceridade. No entanto, podem mentir, eventualmente. Também valorizam os bons costumes e a boa educação.

Seus programas favoritos são: passear no campo, andar à cavalo, nadar, correr, ler livros, ficar em casa à noite ou marcar encontro com um bom amigo. Programs de TV: National Geographic, History Channel e documentários.

 

Neurotipismo moderado

Os neurotipicos moderados ora apresentam poucos sintomas neurotipicos, ora tendem a apresentar uma grande piora, regredindo ao neurotipismo mais severo. Características dos neurotipicos moderados:

• Sabem o que devem fazer, mas não o fazem;
• Confundem assertividade com falta de educação;
• Apontam os erros de outros, mas não enxergam os próprios;
• Fazem coisas que não sabem por que fazem, seguindo as regras da sociedade neurotipica;
• Comparam-se o tempo todo (quem é melhor, ou mais alguma coisa do que o outro);
• Adoram fazer o que outros neurotípicos moderados fazem, unindo-se a tudo que se destaca na sociedade neurotípica moderada (filmes, programas de tv, blogs, redes sociais, etc.);
• Ao atingirem a maturidade (45+) passam a refletir sobre suas vidas. Esta reflexão pode acarretar na transição até a neurotipia leve;
• Os moderados dizem apreciar a sinceridade, mas quando ouvem a verdade, abalam-se com ela. Nada se interfere na imagem que têm de si mesmos;
• O uso de máscaras sociais é uma constante. Arraigados à regras sociais exageradas, têm dificuldade em mostrar quem snao, por medo de não serem aceitos pela sociedade. 

Seus programas favoritos são: sair para barzinhos, de preferencia em grupo; ir à festas; esportes de grupo, shopping no domingo.

Programas de TV – novelas, jogo de futebol, Domingão do Faustão, Encontro, Saúde e Bem Estar, Fantástico.

 

 

Neurotipismo severo

O lado mais complexo do espectro e o mais comum. Os neurotipicos severos parecem não ter a capacidade de pensar sozinhos, necessitando constantemente de afirmação de terceiros (amigos, pais, psicólogos etc.).

Acreditam no que lhes falam (fofocas), sem tentar descobrir a verdade de vários fatos, pessoais ou não. Adoram celebridades e pessoas famosas.

Assistem programas chulos e desprezam as pessoas que consideram inferiores. Detestam fazer perguntas, pois têm opiniões formadas. Quando as fazem, geralmente discordam da resposta, pois nada muda sua maneira (mediana) de ver o mundo.

Chamados por alguns de ‘medíocres’ (no sentido de serem medianos), este grupo de neurotipicos está sempre pronto para falar, mas não para escutar. Costuma achar-se certos, sem maior analise do próprio comportamento. A única verdade que conhecem é a sua verdade. Dependendo da personalidade e da educação que tenham tido no lar, podem ser educados ou não, repeitando a individualidade do próximo ou não. É um transtorno bastante complexo. 

Os neurotipicos severos têm também uma Teoria da Mente muito afetada. Estão constantemente achando o que não é; supondo o que não é, mas que eles acham que é. Esse excesso de Teoria da Mente pode afetar imensamente as relações com terceiros. Não raramente, os severos trocam amigos e parceiros, sempre buscando o ideal. A busca pelo ideal é uma constante no desenvolvimento neurotípico mais severo. 

Assim como alguns moderados, os neurotípicos mais severos também costumam negar os detalhes, fixando-se sempre no todo, comprovando a Teoria da Coerência Central. Com isso, deixam de perceber, por vezes, a solução de seus problemas.

Os neurotípicos severos dificilmente irão admitir, mas perdem facilmente o controle. Culpam os autistas de não dominarem suas Funções Executivas mas, na verdade, não dominam as suas, também. Pecam, principalmente, por falta de Planejamento e Organização, além de darem um valor imenso ao Tempo.

Os severos mentem com facilidade e não apreciam a sinceridade. A maioria é incapaz de dar uma resposta sincera à perguntas, pois o excesso de Teoria da Mente faz com que imaginem que o interlocutor não vá gostar de ouvir a verdade (como eles). Podem ser falsos se for para obter vantagem prórpria. Porém, muitos preferem o escândalo à falsidade: adoram fazer barraco, gritar e esbravejar, ações que confundem com a luta por seus direitos. 

Programas favoritos: Balada, praia, festas, churrasco em família, futebol, shopping sempre que podem. Programas de tv: BBB, Pânico na TV, Domingão do Faustão.

 

O TEN e a felicidade

É possível ser feliz com a Neurotipia. É possivel entende-los e conviver com eles. Porem, não os conteste, ou pareça superior, pois isso pode agravar a sua neurotipia. 

Os neurotípicos são contraditórios por natureza. Um exemplo é o de gostarem de ser normais, mas orgulharem-se quando considerados ‘especiais’ por outros normais. 

Tenha paciência com os neurotipicos. Eles têm muitas limitações que somente poderão ser diminuídas com a convivência com pessoas autistas, ou com com pessoas com alguma deficiência mental ou física patente. Estes grupos têm o poder de tirarem o que há de melhor e menos normal dos neurotípicos.

Como em tudo, na vida, devemos focar nas suas possibiladades e talentos e, não, nas suas limitações. Os neurotípicos são pessoas maravilhosas que, infelizmente, sofreram uma lavagem cerebral na infância – em casa e na escola. Sua tendência a imitar e copiar comportamentos neurotípicos os fez crescer num espaço limitador para sua imaginação (latente) ilimitada. Toda pessoa neurotipica tem o poder de transformação através do aprendizado e da liberação de sua TEP (Tabela Escondida de Preconceitos). Uma vez liberada, estas pessoas descobrem um mundo novo, repleto de soluções simples para os mais complexos problemas da humanidade.

Um Espectro

O Neurotipismo é um espectro. Apesar das definições, os graus de Neurotipismo podem se intercalar, dependendo da fase de vida em que esteja. Os neurotípicos têm uma personalidade única. Se você viu uma pessoa normal, você viu UMA pessoa normal. São todos únicos e é importante saber que a normalidade não os define. 

As pessoas afetadas pelo TEN são contraditórias e se apoiam na normalidade para justificarem suas ações e contradições. Não é fácil conviver com uma pessoa normal, mas o maior conforto é saber que, por baixo da máscara, pode existir uma ser humano maravilhoso. 

OBS: O texto acima é uma sátira e, ao mesmo tempo, uma homenagem da autora às pessoas que não se encontram dentro da “Normalidade”.

*Fatima de Kwant é jornalista e especialista em Autismo & Comunicação. Radicada na Holanda desde 1985, Fatima escreve sobre autismo, neurotipismo e desenvolvimento, com o intuito de formar pontes entre as duas condições. 

 

Holanda, 13 de junho, 2017 

Por: Fátima de Kwant 
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